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domingo, 10 de fevereiro de 2013

3. Casa

                     Minha mãe quicava de empolgação na poltrona, ansiosa para saber tudo sobre meu primeiro dia. Eu quase ri da expressão dela, como se estivesse olhando para as páginas de um livro novo do qual não podia esperar para ler. Eu a ocupei com a história do garoto, sabendo que era o que ela realmente queria saber. Como Melanie, ela ficou desapontada quando viu que eu não sabia o nome, identidade e a senha do banco dele.
                             Como eu e mamãe estávamos cansadas de cozinhar, pedimos uma pizza de calabresa e comemos assistindo Criatura Perfeita, um filme da Nova Zelândia sobre vampiros. Tentei com todas as minhas forças não ver ironia naquilo. Apesar de que o filme era até realista. Nenhum vampiro virou torrada na luz do sol e não houve nenhum "vampiro dentes de sabre", com os caninos enormes. Depois do filme, subi as escadas até meu quarto. Depois de terminar uma pesquisa de biologia, escovar os dentes, tirar a maquiagem e trocar de roupa, mergulhei na cama e caí em sono profundo.
                           A porta da estação de patinação se abriu com dificuldade, pois estava avermelhada devido á ferrugem. Liguei todos os  interruptores das poucas lâmpadas que estavam funcionando. Tirei os tênis e comecei a andar no gelo de meias mesmo, rindo quando escorregava. De repente, saído das sombras, o garoto da escola me olhava, com seus profundos olhos agora cinzentos. Pensei que ficaria assustada, mas minha boca se curvou num sorriso.
                       Começamos a empurrar um ao outro e rir cada vez que um de nós escorregava e quase caía. Do nada, a expressão dele mudou. Os olhos agora estão cheios de tristeza e... dor. Ele beijou a minha testa e escorregou até a parede mais distante de mim. O estranho, é que em nenhum momento desse percurso ele  perdeu o equilíbrio. E fora muito rápido.
                            Antes que eu pudesse pensar um pouco, vultos passaram a minha volta. De repente, haviam 6 pessoas ao meu redor. Pareciam ter em torno de uns 50 anos. Um deles, que parecia o mais velho, abriu um enorme sorriso e acentiu para os outros. Os vultos recomeçaram a passar, e toda vez que um deles me tocava, faziam enormes cortes em minha pele. Meu olhar voou para o garoto. Ele sentara no gelo, encostado na parede, abraçando os joelhos. Ele me olhou, os olhos cheios de dor, tristeza e culpa.
                             Meus olhos se abriram, e eu fitei o teto branco de meu quarto. Sentei-me na cama e olhei pela janela. A noite estava tranquila. A lua imitava o sorriso do gato risonho. Não havia barulho, a não ser alguns latidos de cachorro e o leve sussurrar do vento. Peguei o celular --- que nunca fica mais de seis centímetros longe do fone de ouvido --- e coloquei qualquer música que pudesse apagar todos os meus pensamentos.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

2. Primeiro dia



            Olhei para a menininha encolhida em um banco de madeira debaixo da chuva. Bem, não exatamente. Eu estava olhando um desenho. Mas não sabia nem lembrava como o tinha feito. A única coisa que lembrava de ter feito era que eu tinha aberto o caderno de desenho e começado a rabiscar inconscientemente. Ainda sim ali estava o desenho.
                O sinal tocou em alto e bom som, me lembrando um pouco demais o sinal que avisava que a escuridão estava a caminho em Silent Hill. Talvez o diretor quisesse que a gente estivesse num inferno, de certa forma. Só que em vez de monstros, haviam as patricinhas e as vadias, que eram muito mais assustadoras, com seus brilhos labiais e cabelos esvoaçantes. Esta é minha definição de inferno. Os monstros de Silent Hill seriam meus melhores amigos perto delas.
                  Enfiei o caderno de volta na bolsa de couro preto bem na hora em que o Sr. Murdock entrou marchando pela sala. Ele jogou a pilha de cadernos na mesa com um barulho alto, fazendo a turma praticamente adormecida dar um pulo. Depois começou a andar pela sala, jogando um maço de papéis em cima da mesa de cada aluno e vendo qual folhinha ou iphone ele podia confiscar. Sorte a minha ter guardado o caderno.
              Depois resolveu mudar os lugares. O problema de mudar os lugares, é que sempre me colocam mais perto do sol. E sempre acabo indo para a enfermaria com dor de cabeça. Mas o Sr. Murdock deve ter aprendido com isso, por que não me trocou de lugar. E, graças aos céus, tirou Ben Antonski da carteira na fileira ao meu lado.
                 Tirei o caderno de vinte matérias da bolsa e comecei a vasculhá-la atrás de uma caneta, quando alguém me cutucou. Ergui os olhos. Um garoto meio loiro, de olhos azuis e pele um pouco bronzeada estava me olhando. Quase dei um pulo. Todos os humanos daqui me evitam como se eu fosse desmembrá-los (e, dependendo das circunstâncias, ia mesmo). Com certeza este não estava em juízo perfeito. 
--- Ele é sempre ranzinza? --- sussurrou, numa clara tentativa de ser engraçadinho. Mas eu sabia muito bem o que acontecia com engraçadinhos na aula do Sr. Murdock. Sibilei, indicando que ficasse quieto. Ele franziu o cenho, mas graças a Deus não disse mais nada. Finalmente consegui capturar a caneta dentro do triângulo das bermudas que era minha bolsa, e rapidamente comecei a escrever o texto que já enchia metade do quadro negro.

§§§~§§§

                    Peguei o caderno e o livro e os joguei na bolsa. Procurei a caneta, mas não estava em cima da mesa, ou na cadeira e muito menos no meu bolso. Olhei no chão, e também não estava em lugar nenhum. Ótimo. Primeiro dia de aula e perco minha caneta. Amanhã vou perder o que? A borracha ou o apontador? reclamei em minha mente. Alguém me cutucou, e quando me virei a caneta estava a alguns centímetros do meu rosto.
--- Procurando isso? --- levantei os olhos, e ali estava o garoto, com um sorrisinho irônico que não entendi. Peguei a caneta, joguei dentro da bolsa e agradeci. --- Espera, você é a Alex, não é? --- ele disse enquanto corria para me alcançar na porta da sala.
--- Sim. Ah, e não importa o que ela tenha dito. É mentira. --- eu sabia que Brigitte já havia atualizado todos os alunos novos a manter distância da Alex, segundo ela a "garota morta". Comecei a andar mais rápido, mas ele me seguiu.
--- Do que está falando? --- ele disse, se colocando na minha frente para me fazer parar.
--- Brigitte Wells ainda não veio dar o discurso "fique longe da Alex"? --- essa é nova. Ela nunca deixa de contar a todos.
--- Uma garota veio sim falar algo... Mas não ouvi. Fones de ouvido altos. --- ele continuava com aquele sorrisinho irônico. Como se eu fosse a piada mais divertida do mundo.
--- Bem, espere mais cinco segundos. --- como se esperasse a deixa, Brigitte passou por nós no corredor, com seu cabelo loiro duro de permanente e o famoso olhar de cobra dizendo um sutil "eu avisei". Aproveitei para sair de perto. Não queria quebrar a cara de Brigitte logo no primeiro dia.

                      Guardei a bolsa dentro do armário e me dirigi ao refeitório. Se existisse uma escolha para uma escola para filmar Silent Hill, sem dúvida seria esta. Pelo menos metade das lâmpadas estava quebrada, e a tinta da parede estava descascando em vários lugares. O governador diz que vai arrumar a escola, mas todos sabem como são políticos. Aposto como ele só ia pintar, trocar as lâmpadas e dizer que havia construído uma escola nova.
                         Depois de pegar uma maçã, fui até a mesa onde eu e meus amigos Mel, Samy e Michael nos sentamos. Como sempre, Melanie queria saber tudo sobre o "novato bonitão" que tinha falado comigo. E, como em todas as raras vezes que algum garoto falara comigo, ela ficou decepcionada com o fato de eu não ter pego MSN, Facebook, Twitter... Mel é assim: logo que conhece um garoto, cinco segundos depois já sabe absolutamente tudo da vida do cara. Ela não sabia, mas Michael sempre teve uma quedinha por ela. E naquele segundo, enquanto ela falava, ele mal conseguia conter o ciúme.
                        Do outro lado do refeitório, o garoto acenou para mim, fazendo Melanie começar um discurso interminável sobre como ele estava claramente afim de mim e blá blá blá... Assim que tive certeza de que ela não estava prestando atenção em mim --- uns cinco segundos depois de ela começar a falar --- coloquei os fones de ouvido. Olhei em volta, sem querer encontrando o olhar do garoto. Estava com uma sobrancelha erguida e, talvez pela luz, talvez por que eu estivesse realmente louca, os olhos dele pareciam ter ficado cinzentos. Sacudi a cabeça. Com certeza estava louca.

1. Atacada



                  Sob o travesseiro macio e a colcha rosa bebê com estampa de de pequenas flores, era quase fácil demais relaxar e esquecer o que havia acontecido. Mas ainda sim havia algo ali, sussurrando no fundo de minha mente. Por mais que tentasse, não conseguia fazer com que os sussurros se tornassem inteligíveis. Pareciam distantes, como se vindas do interior de uma concha do mar.
                  O galpão da casa de minha avó fora atacado. Da porta só restara lascas de madeira. As paredes estavam enfeitadas com enormes arranhões e marcas de sangue. Uma das árvores atrás do galpão fora derrubada e também estava arranhada. Mas com uma diferença: havia sido carinhosamente entalhado na árvore "MORTE" em letra de forma.
                   Tudo o que eu queria era encontrar o culpado para poder quebrar a cara de seja lá quem fosse. Mas já havíamos revirado cada canto da cidade, sem encontrar absolutamente nada. Seja lá quem fosse o culpado, não era nenhum iniciante. Tinha feito aquilo em total consciência de suas ações. Não foi uma ação precipitada de alguém enlouquecido. Foi uma ação de alguém que havia planejado cada um de seus passos.
                    O que deixava tudo pior. Se o culpado estivesse fora de si, alguns tapas seriam suficientes para trazê-lo de volta a o juízo normal. Quando estivesse de volta a si, se desculparia conosco e tudo ficaria bem. Mas se aquilo foi feito por alguém em seu juízo perfeito, significava que o ataque foi de propósito. Significava que realmente estávamos em perigo.
                 Estiquei o braço para pegar meu celular. Ia ouvir as músicas mais pesadas, até não conseguir pensar em nada e dormir. Liguei na primeira música do reprodutor, A Dangerous Mind, do Within Temptation.
                    Corro por entre as árvores, segurando a barra de um vestido branco. Meu pés descalços devem estar imundos, mas não importa. Olho para trás repetidas vezes, com medo. Alguém está atrás de mim. Correr para a floresta não é a ideia mais inteligente do mundo, mas não importa. Não há possibilidade de eu me perder. Apenas humanos se perdem na floresta. 
              Um pouco do pano escapa por meus dedos, e uso as unhas para segurá-lo melhor. Mas esse desvio de atenção é suficiente para me fazer tropeçar numa raiz grossa. Desesperada, me apresso em levantar. Continuo correndo o mais rápido que posso, mas é inútil. Vultos começam a passar em minha volta, e eu grito. O vulto corre na minha direção. De repente, a imagem muda. Agora é como se eu estivesse vendo a cena do   alto. Eu caída no chão, uma poça de sangue se espalhando á minha volta, manchando o vestido.
                  
                  Never sleep, never die, berrou a voz de Amy Lee em meu ouvido. Me sentei na cama, os fones caindo de meus ouvidos. Minhas unhas estavam cravadas na colcha, e eu com cuidado as soltei. Só um pesadelo, só isso disse a mim mesma algumas vezes. Caí de volta no travesseiro e olhei o mostrador de relógio: 07:20.  Ás onze tínhamos que estar em Seattle! Me arrumei voando e pulei do último andar da escada. Eu nunca faço isso quando sei que vovó está olhando. Ela não sabe sobre minha... Hum... Diferença genética.
                 Depois de comer uma barra de cereais, corri para pegar minha mala. Joguei-a para Amélia, que estava sentada em cima de sua mala na picape. Ela me ajudou a subir e eu me sentei em cima da minha mala. Logo em seguida vieram Amanda e Anita. Depois Samantha, Annette e por último Melanie. Conversamos o caminho todo, fingindo estarmos animadas com a volta para casa e o início das aulas.
                  Apesar de tudo o que havia acontecido, eu gostava de Forks, e ia sentir falta de lá. É um dos poucos lugares onde eu posso ser eu mesma, sem ficar o tempo inteiro preocupada que alguém percebesse como meus olhos mudam de cor ou que eu sou um pouco mais rápida que o normal. Em Forks eu posso sair na rua sem me preocupar em ficar mais de duas horas no sol (se eu fico mais de duas horas minha cabeça dói).
                    A única coisa ruim são as fãzinhas surtadas de Crepúsculo, que enchem a rua e ficam pedindo autógrafo de qualquer pessoa que seja ao menos um pouco pálida. Eu não tenho nada contra Crepúsculo, mas sendo o que sou, é uma quase uma ofensa os humanos acharem que eu saio por aí brilhando no sol e caçando coelhinhos. Mas uma coisa tenho que admitir, sangue de twilighter é bom.
                     Vovó nos levou até Port Angeles. De lá pegamos um pequeno avião para Seattle. E de Seattle pegamos outro avião para Auburn. Aproximadamente depois de três horas, estávamos em casa.

Prólogo



Corumbá, Brasil
Doze anos antes

                Amélia acordou com alguém chacoalhando-a bruscamente. Ela se virou, pronta para jogar toda a sua raiva em seja lá quem fosse. Uma luz forte a cegou momentâneamente. Assim que seus olhos se acostumaram, pôde enchergar sua irmã, Annette, com o lampião nas mãos.

--- O que foi? --- rosnou. Estava cansada demais para prestar atenção em qualquer coisa. Principalmente sua irritante irmã de seis anos.
--- Preciso ir no banheiro. --- o tom de voz de Anne era baixo. Amélia suspirou pesadamente. Sempre que Anne usava esse tom, significava que queria a ajuda dela para alguma coisa.
--- Venha comigo. --- pegou o lampião das mãos de Annette e acrescentou: --- Acho melhor você parar de mexer com isso. --- a menina nada repondeu, talvez concordando.

                Amélia segurou a mão de Anne e a guiou para fora do acampamento onde estavam com seus pais. Entraram na floresta. Não se afastaram muito. Ainda podiam enchergar o alto das barracas. Annette correu para uma moita.

--- Seja rápida. --- Amélia estava com uma sensação estranha. Como se estivessem sendo observadas. Mas isso era ridículo. Não havia mais ninguém ali, certo?

                 Dois minutos depois, Anne saiu detrás da moita. Mas, antes que pudessem dar um único passo de volta ao acampamento, uma série de vultos começaram a passar em volta delas, obrigando as duas a correr mais para dentro da floresta. Amélia tropeçou em uma raíz grossa e caiu, derrubando o lampião numa poça d'água. A luz do lampião diminuiu até apagar. Annette a ajudou a levantar, e as duas começaram a olhar em volta, em pânico. Os vultos haviam parado.
                   Houve um momento de alívio, seguido por um grito de puro medo quando perceberam que não eram as únicas a estar ali. Uma mulher alta, com longos cabelos lisos e ruivos; olhos verdes e um sorriso assustador estava parada a uns três metros delas. Ela usava um vestido vermelho-sangue com um decote em V.

--- Eu vou matar vocês --- ronronou ela, com um brilho diabólico no olhar. Amélia agarrou a mão de Anne e as duas correram o mais rápido que podiam. Mas logo perceberam que não poderiam mais correr.

                   Estavam encurraladas. Amélia correu os olhos ao redor, contando. Eram dezenove pessoas; dezesete homens de terno preto, aquela mulher ruiva e uma adolescente com cabelo ondulado preto, olhos castanhos e um vestido tomara-que-caia vermelho-sangue. Ela encarava Anne com puro ódio.
                   A cada segundo o pânico de Amélia crescia. Tinha que salvar Annette, de alguma forma. Mas o que ela, uma criança de nove anos poderia fazer? Anne se escondeu atrás de suas costas, choramingando e tremendo violentamente. O pânico de Amélia multiplicou. Não conseguia fazer mais nada, além de ficar paralisada como uma estátua.

--- Acalmem-se. disse a mulher, numa voz tranquilizadora. --- Não iremos machucá-las --- ela parecia sincera, mas será que poderiam confiar nela? --- Sou Emily --- acrescentou.
--- Emily, não. --- repreendeu um dos homens. Parecia irritado. Ele era alto, moreno, e encarava Anne e Amélia com raiva. Emily correu até ele e sussurrou algo, mais era baixo demais para Amélia escutar. Ele estalou os dedos e disse: --- Kaisa. --- a adolescente se atirou em Annette, que estava parada ao lado de Amélia. Anne e Kaisa começaram a lutar como dois cachorros. Amélia queria separá-las, mas quando tentou, Emily a impediu. --- Parem --- ordenou ele. Por um milagre, Annette estava bem. Já a garota, Kaisa, estava toda arranhada. Anne correu para abraçar Amélia.
--- Venha, criança. Hora de seu teste. --- disse Emily, que nesse momento estava longe, em frente a um espelho enorme e uma pequena mesa de madeira com um copo em cima. Amélia parou ao lado de Emily, em frente ao espelho. Estranho. Essas coisas não estavam lá antes. Emily pegou o copo e entregou a Amélia, que estava curiosa. O líquido dentro do copo era escuro e tinha um cheiro incrivelmente doce. Ela sentiu um ardor na garganta, seguido de uma sede desvairada. Bebeu tudo o que havia no copo. Olhou seu reflexo no espelho e deu um grito de pavor. Seus olhos estavam vermelhos.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Sinopse:

A casa de Alexandra Morgan foi atacada por uma criatura que não deixou rastros. Depois desse evento bizarro, vários acontecimentos assombram ela e suas amigas. Afinal, o que fizera aquilo? E por quê? 

Ao mesmo tempo, chega um aluno novo na Auburn High School. Estranhamente misterioso, ele revela uma evidente atração por ela. Mas as constantes mudanças de cor dos olhos dele já são indicações fortes o suficientes para que ela o evite de todas as maneiras. Logo, ela vai descobrir o motivo de todos os seus pesadelos mais brutais.